Inscreva-se

Seja o primeiro a saber as últimas atualizações

Politica

Território Queer: Emiliano Zapata discute os desafios da produção audiovisual LGBTQIA+ no Brasil

Território Queer: Emiliano Zapata discute os desafios da produção audiovisual LGBTQIA+ no Brasil

Por Luiz Vieira

O poder da narrativa. Volta e meia, a transpóloga e atriz Renata Carvalho tem falado de forma mais veemente sobre o poder da narrativa e porque esse tema é tão importante, principalmente, no mercado audiovisual e nos produtos de cultura. O mundo se constroi a partir de narrativas que são consolidadas ao longo do tempo. Há alguns anos atrás, películas LGBTs eram retratadas apenas pela ótica da dor e do sofrimento. Contudo, diretores, diretoras e roteiristas que produzem filmes sobre a comunidade arco-íris entenderam que é preciso desfazer essas arapucas e armadilhas no contexto cinematográfico atual. Não cabe mais o olhar retrógrado do passado.

Emiliano Zapata, diretor de inovação e políticas audiovisuais da Spcine, vem fazendo um movimento neste sentido, e em junho, no Mês do Orgulho, estreará a segunda edição da mostra Território Queer, que acontecerá entre os dias 24 de junho e 13 de julho no Centro Cultura São Paulo, que está sendo promovida em parceria com a Spcine e o Instituto Cervantes para dar destaque aos chamados “Pride films”

“Quero que essa mostra seja lembrada como um ato de amor e de coragem”, salienta Emiliano Zapata

O movimento do diretor de inovação da instituição é justamente ir na contramão de uma indústria que super valoriza filmes heteronormativos, como se o cinema não pudesse dar destaque a outras narrativas. Para o crítico americano Michael Koreski, “ter um filme Queer por ano ganhando algum destaque relevante é desanimador. A explosão do New Queer Cinema nos anos 1980 (possibilitada por quatro elementos, a chegada da AIDS, Reagan, filmadoras portáteis e alugueis baratos) criou uma profusão de novas imagens queer, tanto positivas quanto negativas. Mas isso não resultou, nem de longe, na normalização de personagens marginalizados enquanto protagonistas no cinema. Um filme de grande estúdio com um protagonista gay ainda é tão raro quanto um unicórnio colorido […]”.

No Brasil, este cenário não é muito diferente. Os bem-sucedidos “Baby”, de Marcelo Caetano, e “Homem Com H”, de Esmir Filho, não foram capazes de furar completamente suas bolhas. Para entender como solidificar a importância dos filmes e personagens queer, Zapata bate um papo hoje com o FODA e também fala sobre as suas expectativas para segunda edição da mostra. 

Com vocês, Emiliano Zapata:

1 – Como está sua expectativa para a segunda edição da mostra e por que escolheu este nome?

A expectativa está enorme. A primeira edição da Território Queer foi um grito necessário — e ver o público abraçando a proposta com tanto carinho só reforçou que a gente estava no caminho certo. A escolha do nome vem da ideia de ocupar espaço mesmo. “Território” é uma palavra que carrega força, resistência e pertencimento. Queremos dizer: esse aqui é um território de afeto, de luta, de existência. Um território onde as narrativas LGBTQIAPN+ não só existem, mas são celebradas.

2 – Você acredita que as pautas LGBTs avançaram no Brasil?

Avançaram, mas de forma desigual. A gente conquistou espaço em algumas frentes — como na arte, na política, na comunicação — mas o Brasil ainda é um dos países que mais mata pessoas trans no mundo. A cultura avança, mas a violência também. Então, é preciso ter consciência de que os avanços precisam ser protegidos, aprofundados e transformados em políticas estruturais. Não dá mais pra viver entre o aplauso e o luto.

Foto: Flora Negri

3 – Agora falando de mercado, como podemos valorizar ainda mais as nossas produções nacionais queer?

A resposta é simples e complexa ao mesmo tempo: investindo. Precisamos de políticas públicas de fomento contínuo, de editais específicos, de espaço na programação dos cinemas e das plataformas. Mas mais do que isso, precisamos parar de ver as produções queer como “de nicho”. A gente está falando de histórias universais, com qualidade, emoção e potência artística. Falta coragem ao mercado de romper com o vício da normatividade.

4 – Qual a importância da democratização do acesso para fazer os filmes queer furar bolhas?

É tudo. De que adianta produzir filmes incríveis se eles não chegam nas periferias, nas escolas, nas cidades do interior? A democratização do acesso é o que transforma cultura em ferramenta de consciência. Quando uma pessoa LGBTQIAPN+ se vê na tela pela primeira vez, sem estereótipos, com dignidade, com beleza — isso pode mudar a trajetória de vida dela. A mostra existe também pra isso: pra furar o centro, pra alcançar onde o cinema raramente chega.

5 – Qual legado você quer deixar com essa mostra?

Quero que essa mostra seja lembrada como um ato de amor e de coragem. Um espaço que não só exibiu filmes, mas que plantou sementes, que inspirou futuros cineastas, que acolheu espectadores desacostumados a se verem na tela, que desafiou o status quo. O legado que eu sonho é o de um cinema brasileiro mais plural, mais humano e mais livre — onde todos os corpos, vozes e afetos possam existir sem pedir licença.

Fonte: midianinja.org

Publicado em: 2025-05-17 13:28:00 | Autor: <span>FODA</span> |

portalgongogi

About Author

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Receba por email.

    Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do portal gongogi.

    Portal Gongogi © 2024. Todos os direitos reservados.