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das dores em 1984 à primeira cirurgia

das dores em 1984 à primeira cirurgia

A dor que o presidente eleito Tancredo Neves sentia, e que culminou na internação na noite de 14 de abril de 1985, não era recente. Vinha de, pelo menos, um ano antes e manifestava-se na parte de baixo da barriga. Embora não se possa ligar esse desconforto de 1984 à situação que tornou-se desastre meses depois, também não é possível afastar a hipótese de que não haja conexão.

O quadro agravou-se, e levou à cirurgia horas antes de tomar posse na Presidência, em 15 de março de 1985, por reunir os seguintes fatores: Tancredo era um paciente arredio, que colocava os compromissos políticos à frente da própria saúde; frequentemente solicitava paliativos aos médicos que o acompanhavam, o que teria mascarado a doença até chegar ao ponto crítico; a falta de exames aprofundados que permitissem fechar um diagnóstico.

Ainda governador de Minas Gerais, o que possivelmente era a manifestação do tumor, fez parecer que seria uma agressiva infecção urinária. Segundo relata Luis Mir, em O paciente — O caso Tancredo Neves, o primeiro a medicar o futuro presidente foi o clínico Francisco Diomedes Garcia de Lima, amigo da família desde São João del-Rei, cidade natal de Tancredo. Ele fora a Belo Horizonte para uma audiência no Palácio da Liberdade, marcada para as 18h30 de 19 de junho de 1984. É avisado, porém, que o governador estava indisposto e febril depois de voltar de São Paulo. Seria recebido dia 20, às 10h.

Mas, ainda no dia 19, d. Risoleta Neves convoca Francisco, pois Tancredo apresentava febre muito alta e só aceitou que o examinassem por ser o médico um velho conhecido. “Encontrei o governador com 40° de febre logo pela manhã. Sua esposa me informou que a febre tinha sido alta a semana toda. Ele tomava aspirina, aguardava a febre baixar e voltava ao trabalho”, explicou Francisco, conforme registrado no livro de Mir.

Tancredo, porém, deixou claro ao médico que não podia ficar fora de combate. Explicado o problema, Francisco aceita o pedido do então governador para que o ajudasse a manter-se ativo. De novo, a saída foram as aspirinas, eficientes contra a febre. Mas o médico foi veemente ao recomendar que fizesse exames de sangue e de urina, além de uma radiografia do tórax.

Em 22 de junho, Tancredo submete-se às coletas de material e a um raio-X no Hospital Felício Rocho. Tinha sido medicado, no dia anterior, por uma combinação do antibiótico amplacilina e aspirina, e sentia-se bem, segundo Francisco — que compartilhou a preocupação sobre a saúde do governador com outros dois médicos, o secretário de Saúde de Minas à época, Dário Tavares, e o então diretor do HFR, Rubens Resende Neves, primo do paciente.

Poucas horas depois, saía o resultado: nada de expressivo no hemograma, mas o exame de urina apresentava uma preocupante infecção: detectou a presença de pus (piúria), a perda da proteína albumina (albuminúria) e tinha coloração avermelhada por sangramento (hematúria). Como Tancredo não reclamava de cólicas — a hipótese de cálculo renal foi afastada —, reforçou a impressão de que as vias urinárias superiores estavam infeccionadas (pielonefrite aguda).

Substituem a amplacilina por outro antibiótico, a garamicina de 80mg, e combinam nova bateria de exames, dessa vez com ênfase para o aparelho urinário. E o tempo passa.

O mesmo incômodo

Em janeiro de 1985, pouco antes da eleição do Colégio Eleitoral, Francisco estava em casa, em São João del-Rey. Tancredo, de Brasília, o alcança pelo telefone e reclama que o desconforto de meses antes voltou. O médico recomenda keflex, outro antibiótico, mas receia assumir a responsabilidade sozinho. Divide o assunto com Maria Jozina e Ester, irmãs de Tancredo, que iriam a Brasília e o convidam a acompanhá-las. Segundo Francisco, ao chegarem ao apartamento do já presidente eleito, ele estava bem disposto e alegre. Não se tocou mais no assunto.

Um dia antes de um giro internacional, o médico Renault Mattos Ribeiro, então diretor do Serviço Médico da Câmara dos Deputados, é convocado para ir ao apartamento de Tancredo. O presidente recusa-se a colher material para exames, mas pede-lhe que o visse assim que retornasse do exterior — e aponta para a região abaixo da barriga, mostrando que dali vinha o incômodo.

Dessa viagem, surgiu a versão de que Tancredo foi internado no Hospital Bethesda, em Maryland, nos Estados Unidos, onde teriam diagnosticado um tumor intestinal — que, se removido, permitiria que participasse normalmente da posse, em 15 de março. Diz-se, inclusive, que recusou a operação. O embaixador aposentado Rubens Ricúpero, guia diplomático da viagem por sete países, nega veementemente tal história.

Em 12 de março, ao chegar no escritório da Fundação Getulio Vargas, onde vinha despachando e realizava os encontros com a imprensa, Tancredo vacila ao subir a escada. Quem percebeu isso foi o publicitário Mauro Salles, conforme relato em Tancredo Neves: A Noite do Destino, de José Augusto Ribeiro. Na coletiva, deu um segundo sinal ao bater com o punho contra a parte de baixo da barriga.

Tarde da noite, Renault recebe um telefonema do hoje deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG), então secretário particular de Tancredo, avisando-o de que o avô sentia-se mal. O médico insiste que devia vê-lo imediatamente, mas o presidente eleito pede que apareça apenas na manhã seguinte.

Baixa cedo na casa de Tancredo, no dia 13. Nos exames, ao apalpar a fossa ilíaca, o paciente reclama e afasta a mão de Renault. “Apalpei de novo e, de novo, ele reagiu. Reação de peritonite. Peritonite dá, provavelmente, em quem tem foco de inflamação no intestino, ou pode ser uma apendicite, embora apendicite não seja muito comum em pessoas da sua idade — 75 anos. Mas poderia ser. Ou, então, diverticulite. Eu disse: ‘O senhor está com um problema abdominal sério e provavelmente precisará ser operado’. Ele disse: ‘Renault, faz o seguinte: me trata, de toda maneira, sem operação. Se é infecção, me dá antibiótico'”, relembrou o médico, em depoimento para os registros da Câmara dos Deputados.

Renault divide o problema com o colega e cirurgião Francisco Pinheiro Rocha (que morreu no último dia 30, aos 95 anos). Ao ver os exames levados pelo clínico, concorda que tratava-se de uma peritonite aguda — e que era o caso de operar. Decidem investigar um pouco mais e marcam, para a noite do dia 13, exames no Centro Radiológico de Brasília. Antes, porém, os dois médicos fazem uma visita ao presidente, na Granja do Riacho Fundo. Pinheiro encontra Tancredo com o ventre estufado e dolorido.

A ecografia feita na noite de 13 de março mostra, no quadrante inferior do abdome, uma massa, em torno de 8cm, que poderia ser composta de líquido ou de pus. O cirurgião deixa claro que era caso de operação — e de emergência. Tancredo resiste. A essa altura, espalha-se por Brasília a suspeita sobre o mau estado de saúde do presidente.

Pré-operação

Na noite de 14 de março, Tancredo dá entrada no Hospital de Base (HDB) às pressas. Para levá-lo até lá, foi uma guerra, segundo os médicos que o atendiam. Novos exames confirmam a bacteremia grave (17.700 leucócitos). Porém, quando o assunto é cirurgia, o presidente se revolta. Há, então, o diálogo com Renault.

“Infelizmente, temos de submetê-lo a uma intervenção cirúrgica. A apendicite progrediu, está invadindo o peritônio. Não podemos esperar para amanhã (16 de março), como prevíamos”, pondera o médico.

“De modo algum. Só depois da posse”, rebate Tancredo.

“O senhor não vai ter condições de ir à posse”, enfatiza Renault.

“Vou de maca, se for o caso. Eu lhe dou um documento, isentando-o de qualquer responsabilidade”, reage o presidente.

“Não se trata disso, dr. Tancredo. Não vou andar por aí exibindo um documento ao povo brasileiro para justificar minha incapacidade de convencê-lo, meu paciente e amigo há 20 anos, a se operar. Ninguém iria me perdoar. O povo o quer vivo e eu também. Amanhã, o senhor não terá condições de se operar e poderá, inclusive, não estar vivo”, sentencia Renault.

Tancredo recorre à ironia. Afirma que ficaria na maca tomando soro, quieto. Deixaria o HDB por volta das 5h, iria ao Riacho Fundo para um banho e um café rápido, seguiria para o Congresso, tomaria posse, receberia a faixa presidencial no Palácio do Planalto, faria o discurso já como chefe da Nação e voltaria ao hospital para a cirurgia. O chefe da Unidade de Terapia Intensiva do Base, Aluísio Toscano Franca, insiste: não havia tempo para tanto.

“Hoje, doutor, nós não temos conversa”, retruca Tancredo, irritado.

Este diálogo, segundo Luis Mir, foi presenciado por d. Risoleta e pela enfermeira-chefe Berthe Monteiro Nery.

Dia 15 de março, madrugada. Às 1h10, Tancredo começa a ser operado e fica na mesa cirúrgica até as 2h45. Mas, antes que o procedimento iniciasse, aconteceu de tudo: 1) o HDB foi invadido por políticos, jornalistas, militares e curiosos tão logo souberam que o presidente lá dera entrada; 2) entre os médicos, houve uma confusão bizantina sobre em que centro cirúrgico se faria a operação. Inicialmente, seria no da cardiologia, no subsolo, mas levaram-no para o do pronto-socorro, no segundo andar. Até que descesse ao lugar da operação, houve bate-boca entre os médicos Toscano Franca e o diretor do HDB, Gustavo Arantes, com o envolvimento ainda de Renault e Pinheiro, que exigiu a descida do paciente. Nisso, perdeu-se, pelo menos, uma hora; 3) o centro cirúrgico foi invadido por gente que nada tinha a ver com o procedimento — 34 pessoas, segundo contagem publicada em O paciente — O caso Tancredo Neves.

Luis Mir relata em seu livro o cenário que o filho do presidente eleito, Tancredo Augusto, encontrou no HDB: “Era um circo! Ele (Tancredo) me fez um único pedido: ‘Meu filho, ponha o lençol no meu rosto, me cubra!’. Fiz isso, pus o lençol no rosto dele. Teve uma pessoa que tentou, que queria levantar o lençol! Não tinha nenhuma segurança. Éramos eu, o médico (Toscano Franca) e o presidente da República na maca. Em um canto, um baleado, sangrando. Gente nos corredores… parecia o Inferno de Dante”, descreveu.

“Imolação?”

Em entrevista para o livro Memória viva do regime militar — Brasil: 1964-1985, o autor Ronaldo Costa Couto é enfático ao perguntar a Pimenta da Veiga, ex-líder do governo na Câmara dos Deputados, à época da eleição de Tancredo, se o presidente eleito “se imolou”. “Percebi um sentimento dele de descompromisso com a vida. Um sentimento menor pela própria vida, diante de dois aspectos. Primeiro, o coroamento de uma longa e brilhante vida pública que ele não queria, muito justamente, que deixasse de chegar ao cume, a Presidência da República. Depois, por entender que sua posse era um fato tão forte, que justificaria até a perda da vida. Até a própria morte. Ela encerraria um ciclo (…). Ele foi aos extremos porque considerava sua própria vida um bem menor diante da questão nacional a ser resolvida”, analisou Pimenta.

Em entrevista ao repórter Vanilson Oliveira, do Correio Braziliense, o ex-deputado confirmou que foi avisado por Renault de que a saúde de Tancredo se agravara a um ponto preocupante — situação, aliás, que era sabida por poucos, como o presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, e o general Ivan de Souza Mendes, do Serviço Nacional de Informações (SNI): “Estou lá (no gabinete) e chega o doutor Renault, médico da Câmara. Entra e vai diretamente a mim. Pede licença à secretária e diz que precisava me dizer algumas palavras imediatamente. Notei que era alguma coisa grave e me dirigi a uma pequena sala anexa, que estava repleta de deputados, senadores, até de ministros do governo que ia se instalar. Me lembro que estava lá o Dilson Funaro, que à época não era ministro, era presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) — mas estavam todos lá. Pedi licença e fui a esta sala anexa ver o que o doutor Renault queria me dizer. E, para meu espanto completo, ele me dizia que, não pelas relações pessoais que tínhamos, mas por uma razão institucional, que o dr. Tancredo estava mal de saúde e que eles haviam aconselhado uma cirurgia imediata. Mas o dr. Tancredo teve a seguinte reação: ‘Leve-me à posse, depois façam de mim o que quiserem.’ Ele tinha dúvida se os militares dariam posse ao (vice-presidente José) Sarney”, relembrou Pimenta.

No artigo intitulado 40 anos depois — Ainda estamos aqui, publicado no começo desta série, a repórter do Correio Braziliense Liana Sabo testemunhou que, na missa da noite de 14 de março de 1985, no Santuário Dom Bosco, Tancredo estava com algum problema de saúde. Percebeu que o presidente eleito levou a mão à base da barriga, ao se levantar em certo momento da celebração. Corria por Brasília o boato, mas, como ele disfarçava bem, as pessoas que o acompanhavam tinham dúvidas.

Em entrevista à edição do Correio Braziliense de 14 de março de 2005, Renault deixa claro que Tancredo colocou a situação política do país acima da própria saúde. Indagado se o presidente, caso fosse um cidadão comum, teria aceitado se operar, o médico foi peremptório. “A gente não teria tolerado um pouquinho aquela reação dele. A gente se perguntava: ‘Mas será que ele não pode esperar só mais dois dias?’ Afinal, faltava muito pouco para ele tomar posse na Presidência da República, num momento dramático, de redemocratização do país”, explicou.

Segundo Renault, a saúde de Tancredo era “em geral, boa. Mas, um ano antes de ter o problema da diverticulite, ele sofreu um infarto. Descobri durante um exame de rotina. Eu pedi um eletrocardiograma e detectei uma ponta lesada no ventrículo do coração. Mas ele nunca soube disso” — disse o médico, na mesma entrevista.

A família

Ao longo da conversa que se tornou a entrevista publicada ontem pelo Correio Braziliense, Aécio criticou os médicos que acompanharam o avô. Conforme disse, a família não foi alertada por eles de todos os riscos relacionados à saúde do presidente eleito. “Não houve, em nenhum momento, uma imposição para que ele se operasse”, relembrou. O neto de Tancredo confirma que o ambiente encontrado no HDB era de completa confusão.

“Havia mais de 30 pessoas no centro cirúrgico”, observou.

Segundo Aécio, a ideia da família era levar Tancredo para ser operado em São Paulo — inclusive, ele já havia esquematizado a remoção com uma empresa de táxi aéreo. Mas os médicos que atendiam o presidente eleito insistiam que seria arriscado e que não se responsabilizariam se não resistisse à viagem.

Em Tancredo Neves: a noite do destino, José Augusto Ribeiro republica uma longa entrevista de Aécio, de 1991, no qual o deputado deixava claro que também havia, como pano de fundo, a tentativa dos médicos que acompanhavam o presidente até então de priorizar o corpo de especialistas que atuava em Brasília.

“O dr. Renault era médico do Tancredo há 20 anos, mas nós, da família, não conhecíamos o cirurgião, o dr. Pinheiro. Chamei o dr. Renault num canto do quarto (da Granja do Riacho Fundo, na primeira vez em que os dois especialistas examinaram o presidente juntos) e insisti com ele: por que o Pinheiro? Ele me dizia que se Tancredo tivesse de ser operado por alguém, seria pelo Pinheiro, indicado exclusivamente por ele, e que ninguém conhecia. E repetia: ‘Fique tranquilo que o hospital está preparado e tem todas as condições de operar o dr. Tancredo'”, frisou Aécio.

Confrontado sobre os motivos pelos quais a família não reagiu à indicação de Pinheiro, o deputado justificou na mesma entrevista publicada no livro: “Optamos por dar a ele toda a autoridade para escolher os médicos para fazer o tratamento. Mas ficou claro que, naquele momento, ele teve a preocupação com a questão regional, em preservar o corpo médico de Brasília. É a autoridade de quem delegou a escolha ao médico que nos permite, hoje, a cobrança de responsabilidades”, observou.

Renault e Pinheiro foram submetidos a processo ético-profissional pelo Conselho Regional de Medicina do Distrito Federal (CRM-DF), aberto em 26 de abril de 1985.

Na edição de 15 de março de 2005 do Correio Braziliense, o ex-presidente José Sarney, que assumiu o mandato de Tancredo, evitou analisar se os médicos que acompanharam o ex-presidente estavam certos ou errados. “Prefiro não julgá-los, até porque acho que os médicos só tiveram a noção da gravidade do quadro depois que Tancredo foi aberto. Agora, muitos políticos acreditam que um problema de saúde atrapalha, sim, a carreira. Sempre tive uma postura diferente porque sou hipocondríaco. Sempre falo à minha mulher (d. Marly): se eu tiver uma dor de dente, ela pode sair gritando na rua. O que quero é que a dor passe”, respondeu.

Em O paciente — O caso Tancredo Neves, Luís Mir faz uma análise da relação entre a medicina e o poder, e o quanto pode ser leniente com limites éticos: “A simbiótica afinidade entre a medicina e o poder sempre tem resultados agourentos. O caráter aplicado de ciência médica, o controle e a competência de intervenção e predição são subjugados pela irracionalidade do poder, fenômeno sem comedimento, cuja única função é praticar o domínio absoluto. No caso deste paciente (Tancredo), os profissionais envolvidos se remeteram a procedimentos empíricos ou relativos, mesmo que aparentemente seguissem uma universalidade clínica. O sistema de atendimento, a partir de seus principais chefes — Renault Mattos Ribeiro [clínico], Francisco Pinheiro Rocha [cirurgião], Henrique Walter Pinotti [cirurgião já da fase paulista da tentativa de salvar o presidente] — laborou, mas não o suficiente, para que toda a sua aptidão (cirúrgica e curativa) chegasse ao doente, em Brasília. Era fundamental (e não foi sequer tentado) isolar o presidente das exigências políticas absurdas feitas continuamente à beira de sua cama, por multidão que borboleteava dentro da UTI e contaminava o entorno médico e político do paciente. Eram médicos do poder, que serviam ao poder, e todos pagaram um preço (altíssimo) por isso”, resumiu.

O resultado, trágico, veio em 21 de abril de 1985.


Fonte: www.correiobraziliense.com.br

Publicado em: 2025-04-20 03:55:00 | Autor: |

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