O Brasil caiu 21 posições no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano Ajustado à Desigualdade (IDHAD), que mede o IDH ao se considerar o fator da desigualdade no acesso à saúde, educação e nível de renda. O dado foi divulgado em relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na última terça-feira (06/05) e revela uma realidade duramente sentida pelo povo brasileiro: os supostos ganhos de renda e expectativa de vida registrados nas estatísticas oficiais não são distribuídos de forma igualitária e, em muitos casos, sequer chegam às massas mais pobres.
Com um IDH bruto de 0,786 (em uma escala de 0 a 1) referente ao ano de 2023, o Brasil figura entre os países de “alto desenvolvimento humano”, segundo a classificação da ONU. No entanto, quando o índice é ajustado para refletir a desigualdade (IDHAD), a nota despenca para 0,594, levando o País à faixa de “desenvolvimento médio” – próximo à de “baixo desenvolvimento humano” (abaixo de 0,550) – e à 105ª colocação entre 193 nações, com perda de 21 posições no ranking global.
A perda de 24,4% em relação ao IDH bruto é explicada pela extrema concentração de renda e a falta de acesso aos serviços públicos essenciais. É uma queda expressiva, que coloca o Brasil acima apenas de África do Sul (35,8%) e Botsuana (30,4%) dentre os 50 países que integram o grupo de “alto desenvolvimento”, ambos com indicadores globais (como expectativa de vida e PIB per capita) muito mais frágeis. Outro fato preocupante é que o IDHAD brasileiro subiu apenas 3,5% em relação a 2019 (0,574), ano anterior à pandemia de Covid-19.
Além disso, as cifras do PNUD indicam que o 1% mais rico da população brasileira concentra 21,1% de toda a renda nacional, enquanto os 40% mais pobres dividem apenas 11,3%. Assim sendo, o caso brasileiro ilustra que o progresso nominal no desenvolvimento humano pode mascarar desigualdades profundas.
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Melhora enganosa nos indicadores globais
Embora indicadores como PIB per capita, expectativa de vida e escolaridade média tenham apresentado modesto crescimento, esses ganhos não foram distribuídos no conjunto das massas populares.
Entre 1990 e 2023, a expectativa de vida ao nascer subiu de 65,86 para 75,85 anos; a escolaridade média passou de 3,69 para 8,43 anos; e o PIB per capita saltou de US$ 12.178 para US$ 18.011 (em valores corrigidos). Entretanto, o crescimento do IDH no Brasil (22,6%) é inferior ao global (24,3%) e muito abaixo do grupo ao qual pertence (36,6%).
Na verdade, os dados escondem a verdadeira face da desigualdade: a elevação do PIB per capita, por exemplo, reflete os lucros concentrados das classes dominantes – grandes burgueses e latifundiários –, grandes conglomerados e bancos, e não o aumento real da renda das massas populares, que sofrem com a alta do custo de vida, o desemprego e a deterioração das relações trabalhistas e condições de subsistência.
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Desaceleração sem precedentes no mundo
Em nota publicada em seu site, o PNUD destacou que “o progresso do desenvolvimento humano está passando por uma desaceleração sem precedentes”, atingindo o seu “nível mais baixo em 35 anos”. “Em vez de uma recuperação sustentada após o período de crises excepcionais de 2020-2021, o relatório revela um progresso surpreendentemente fraco. Excluindo os anos de crise, o crescimento global do desenvolvimento humano projetado neste ano é o menor desde 1990”, destacou a agência da ONU.
No mundo, o IDH médio é de 0,756, mas quando ajustado à desigualdade (IDHAD) cai 22%, ficando em 0,590. O relatório apontou que a desigualdade entre países com IDH “baixo” e “muito alto” continua a crescer. A região América Latina e Caribe registrou um IDHAD médio de 0,619, seguida pelos Estados Árabes (0,544), o Sul da Ásia (0,469) e a África Subsaariana (0,377).
“Além da alarmante desaceleração global, o relatório aponta para o aumento das desigualdades entre países ricos e pobres. Os desafios para os países com os mais baixos índices de desenvolvimento são particularmente severos – impulsionados por tensões comerciais crescentes, agravamento da crise da dívida e o avanço da industrialização sem geração de empregos”.
O chefe global do PNUD, Achim Steiner, demonstrou preocupação com o risco real de que metas de desenvolvimento para “um mundo de desenvolvimento humano muito elevado até 2030” não sejam alcançadas caso não seja possível reverter a estagnação. “Essa desaceleração representa uma ameaça real ao progresso global. Se o fraco avanço de 2024 se tornar o ‘novo normal’, esse marco de 2030 pode ser adiado por décadas – tornando o mundo menos seguro, mais dividido e mais vulnerável a choques econômicos e ecológicos”, disse ele.
Crise geral do imperialismo
Os dados divulgados pela agência da ONU expressam a tendência global de concentração de riqueza, estagnação econômica e agravamento das condições sociais e de vida das massas populares, todas características do atual estágio da crise geral do imperialismo. O próprio relatório do PNUD destaca um “cenário global turbulento” em que a desigualdade é um dos principais obstáculos ao desenvolvimento humano no mundo.
Frente a esse cenário, organizações revolucionárias e anti-imperialistas alertam que nenhuma reforma dentro do sistema imperialista resolverá cabalmente a situação de exploração e opressão à qual as massas são submetidas, e que somente a luta das nações e povos oprimidos do mundo contra o imperialismo pode detê-lo de conduzir a humanidade à ruína.
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O revolucionários também saúdam os “os movimentos revolucionários que lutam pela derrota do imperialismo, da América Latina às Filipinas, da Índia ao País Basco. Também estendemos nossa solidariedade aos revolucionários que lutam nos centros imperialistas dos Estados Unidos e da Europa, onde a luta de classes está se intensificando e só pode levar ao fortalecimento das Forças Revolucionárias.”
O Comitê de Coordenação da Liga Anti-Imperialista (LAI), uma organização mundial em processo de fundação, em seu documento de convocatória pública, enfatiza que “este sistema está conduzindo o mundo a uma grande catástrofe” e que “a humanidade assistirá em silêncio este visível declínio e deslizará para a extinção ou resistirá a ela com todas as suas forças”.
“A causa principal da fome, da pobreza profunda e generalizada, das intermináveis guerras injustas de divisão, é o sistema imperialista (…), que tem levado toda a humanidade a uma grande decadência. Ou a humanidade estará condenada com todas as consequências negativas que acompanham este brutal sistema de exploração, ou enviará este sistema apodrecido à lata de lixo da história, à qual ele pertence. Não há outro caminho nem solução intermediária”, destacou a organização internacional em outra nota.
Publicado em: 2025-05-13 18:47:00 | Autor: Redação de AND |