Ataque cibernético, causas climáticas. Entenda o que já se sabe sobre o apagão na Europa. A Espanha trabalha para investigar as causas
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, anunciou hoje (29) a criação de uma comissão especial para investigar o apagão sem precedentes que atingiu parte da Europa na segunda-feira, mergulhando cidades em escuridão, paralisando o transporte ferroviário e resultando na morte de pelo menos cinco pessoas em território espanhol. Entenda na TVT News.
“É evidente que o que aconteceu ontem não pode se repetir”, declarou Sánchez em pronunciamento oficial, após a completa restauração da energia em Espanha e Portugal. O premier garantiu que o governo vai “chegar ao fundo da questão” e implementar todas as reformas e medidas necessárias para evitar novos episódios do tipo.
Vítimas do apagão
A tragédia já contabiliza vítimas fatais: uma família de três pessoas morreu por inalação de monóxido de carbono após utilizar um gerador em casa no noroeste do país; uma mulher em Valência faleceu por falha no seu equipamento de oxigênio, e outra morreu em Madri devido a um incêndio provocado por uma vela acesa durante a falta de luz.
Ataque cibernético
Apesar dos boatos circulando nas redes sociais, autoridades energéticas dos dois países descartaram a possibilidade de um ataque cibernético. A operadora espanhola Red Eléctrica informou que o apagão teve origem em uma “desconexão de geração” no sudoeste espanhol, região com alta concentração de usinas solares. Segundo Eduardo Prieto, chefe de serviços da empresa, “não há indícios de intrusão ou sabotagem nos sistemas de controle”.
A hipótese de ataque, no entanto, segue sob apuração judicial. A Audiencia Nacional, corte penal máxima da Espanha, anunciou a abertura de investigação para apurar se houve sabotagem digital contra infraestrutura crítica, com o ciberterrorismo listado entre as possibilidades.
O primeiro-ministro português, Luís Montenegro, também se manifestou, pedindo à Agência da União Europeia para a Cooperação dos Reguladores de Energia (ACER) que realize uma auditoria independente nos sistemas elétricos dos países afetados.
Desinformação no apagão
Ambos os governos alertaram contra a desinformação. Sánchez classificou como “mentira ou ignorância” as tentativas de associar o blecaute ao fechamento gradual de usinas nucleares. Ele enfatizou que a energia nuclear “não é mais resiliente” do que outras fontes.
A situação começou a se normalizar na noite de segunda-feira. Às 11h30, todas as subestações portuguesas estavam operando normalmente. Na Espanha, a operadora Renfe informou que os serviços ferroviários estavam sendo retomados, embora ainda houvesse suspensões em regiões como Múrcia, Extremadura e Andaluzia. Mais de 35 mil passageiros foram resgatados de mais de 100 trens parados.
Causas climáticas
A agência meteorológica espanhola, Aemet, descartou causas climáticas, afirmando que nenhum fenômeno meteorológico incomum foi registrado. A empresa portuguesa REN também negou a autoria de mensagens falsas que atribuíam o apagão a um suposto evento atmosférico raro.
Apagões em larga escala são raros na Europa. Os mais notáveis ocorreram em 2003 e 2006, afetando múltiplos países. Ainda assim, a gravidade do episódio de segunda-feira acendeu alertas sobre a fragilidade das redes de energia em um continente altamente dependente de interconectividade e transição energética.
Em Portugal, embora os efeitos do apagão tenham sido menos severos do que na Espanha, o governo agiu para tentar assegurar a segurança. O primeiro-ministro Luís Montenegro reforçou que não há indícios de ataque cibernético ou ato hostil, e reiterou a necessidade de uma auditoria independente conduzida pela ACER para esclarecer tecnicamente o ocorrido.
A operadora REN informou que todas as subestações estavam estabilizadas antes da meia-noite de segunda-feira, e que o fornecimento elétrico no país foi totalmente restabelecido. Ainda assim, autoridades portuguesas permanecem em alerta e cooperando com os órgãos espanhóis para mapear vulnerabilidades e fortalecer a resiliência da infraestrutura energética na região.
A expectativa agora recai sobre os desdobramentos das investigações técnicas e judiciais que definirão as causas exatas da falha — e, principalmente, as medidas para que cenas como as desta semana não se repitam.
Publicado em: 2025-04-29 14:29:00 | Autor: Gabriel Valery |