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Ditadura dizia que eleição direta em 1985 seria golpe – 07/05/2025 – Poder

Ditadura dizia que eleição direta em 1985 seria golpe – 07/05/2025 – Poder

Faz 40 anos que os brasileiros recuperaram o direito de escolher o presidente. A reintrodução das eleições diretas na Constituição foi aprovada pelo Congresso na madrugada de 8 para 9 de maio de 1985 e promulgada logo depois, no dia 15.

A medida, porém, não se originou do movimento Diretas Já, de 1983 e 1984, nem da emenda Dante de Oliveira, rejeitada em 1984.

Decorreu da emenda constitucional 25, uma das primeiras iniciativas da Nova República. Ela mudou a Constituição da ditadura dois meses após a saída dos generais e a posse do presidente José Sarney.

Documentos do Arquivo do Senado mostram os argumentos da ditadura para não autorizar a volta da eleição direta para a Presidência.

No final de 1983, o senador governista Dinarte Mariz (PDS-RN) disse que seria golpismo acabar com a eleição indireta. “Mudar a regra do jogo a esta altura, quando já estamos em campanha para uma sucessão presidencial, já feita em eleições livres, limpas e corretas, representa um golpe de Estado”, afirmou.

Quem votava para presidente era o Colégio Eleitoral, composto por todos os senadores e deputados federais e alguns deputados estaduais. Isso garantia a continuidade dos militares no poder, já que eles normalmente tinham maioria no Legislativo federal e nos estaduais.

Para o senador governista João Lobo (PDS-PI), a oposição queria eleições diretas porque seria minoritária no Colégio Eleitoral de 1985, que escolheria o sucessor do general João Figueiredo. As eleições legislativas de 1982 haviam dado vitória ao partido governista.

“Em 1982, as urnas, pelo voto direto, deram o Colégio Eleitoral para o PDS. É um direito adquirido. Não temos razões para acompanhar o realejo [a favor das eleições diretas] que as oposições estão fazendo funcionar em toda a opinião pública”, afirmou Lobo.

O líder do governo no Senado, Aloysio Chaves (PDS-PA), afirmou que o Colégio Eleitoral era, sim, legítimo: “Esse Colégio Eleitoral saiu das mesmas urnas que elegeram [em 1982] dez governadores de oposição. Como, então, falar-se de ilegitimidade?”.

A ditadura planejou uma abertura “lenta, gradual e segura”. Isso, no entanto, não incluía eleições diretas para presidente. Foi por essa razão que a base parlamentar de Figueiredo derrubou a emenda Dante de Oliveira.

Na tentativa de esvaziar essa proposta de emenda à Constituição, Figueiredo enviou ao Congresso uma PEC prevendo eleições diretas só a partir de 1988. “A eleição direta não é remédio único para nossos males. Falso é apresentar a eleição indireta como empecilho para as transformações que a nação almeja”, disse em discurso.

Derrotada a emenda Dante de Oliveira, as atenções se voltaram para a emenda Figueiredo. A oposição tentou desfigurá-la, para permitir que a eleição de 1985 já fosse decidida pelo povo. Irritado, o presidente retirou a sua PEC do Congresso.

Se a abertura estava em curso e era certo que em algum momento as eleições seriam diretas, por que Figueiredo não permitiu que a sua sucessão já fosse decidida pelo povo?

Para o historiador Leonardo Weller, coautor do livro “Democracia Negociada: Política Partidária no Brasil da Nova República”, se houvesse voto popular em 1985, a ditadura perderia o controle sobre a sucessão.

“O temor dos militares era que fosse eleito um nome da esquerda do PMDB ou até um esquerdista convicto, como Leonel Brizola. Esse temor tinha fundamento. A população estava insatisfeita com a ditadura porque o país vivia a crise da dívida externa, a economia retrocedia e a inflação estava na casa dos 200% ao ano”, diz Weller.

O maior perigo para o regime militar, segundo o historiador, era o de que um presidente de esquerda revogasse a Lei da Anistia e determinasse a punição dos militares que praticaram abusos nos 21 anos da ditadura, incluindo a morte de opositores.

Para evitar esse desfecho, diz Weller, os militares desejavam que o primeiro governo civil fosse formado por políticos oriundos da própria ditadura.

Diante da inviabilidade eleitoral de Paulo Maluf, candidato dos militares no Colégio Eleitoral, o cenário mais palatável para a maior parte das Forças Armadas seria a vitória de uma chapa que, embora oposicionista, fosse conservadora.

Foi uma chapa assim que a ditadura permitiu vencer, formada por Tancredo Neves, expoente da direita do PMDB, e José Sarney, novato no PMDB e ex-presidente da Arena e do PDS, os partidos da ditadura.

“Ao se aliar a Sarney, a mensagem que Tancredo quis transmitir aos militares foi a seguinte: ‘Podem me aceitar como presidente, pois vou fazer um governo conservador e sem revanche’”, continua Weller.

Teoricamente, a classe política poderia esperar a Assembleia Nacional Constituinte, de modo que as eleições diretas fossem restabelecidas pela Constituição de 1988. Dois motivos, porém, anteciparam a medida para 1985.

Na eventualidade de Sarney ser impedido ou até morrer, o sucessor —caso não fosse instituída a eleição direta— precisaria ser escolhido pelo Colégio Eleitoral dos tempos da ditadura. Além disso, a volta imediata das eleições diretas havia sido uma promessa de Tancredo, e os políticos desejavam mostrar que ela não havia sido esquecida.

Sarney discutiu com seus aliados a PEC das eleições diretas no início de maio de 1985. É provável que não tenha feito isso antes porque aguardava a recuperação e a posse de Tancredo —o que nunca ocorreu. Sarney remeteu a proposta ao Congresso em 7 de maio, 16 dias após a morte de Tancredo.

O que os parlamentares promulgaram, porém, não foi a PEC de Sarney. Eles ampliaram uma proposta já em andamento, do deputado Navarro Vieira Filho (PDS-MG), que previa eleição direta para prefeito de estâncias hidrominerais.

O relator da PEC em andamento, deputado João Gilberto (PMDB-RS), redigiu um substitutivo assim que a proposta de Sarney chegou ao Congresso e aproveitou trechos do texto do presidente. O substitutivo foi aprovado com rapidez.

Os brasileiros passaram quase 30 anos sem escolher o presidente. A última vez havia sido em 1960, quando Jânio Quadros venceu. Voltaram às urnas em 1989, quando escolheram Fernando Collor.

A emenda constitucional 25 trouxe outras novidades: criou o segundo turno, restaurou o voto direto para os prefeitos de capitais, estâncias hidrominerais e municípios em área de segurança nacional, facilitou a criação de partidos e liberou o voto dos analfabetos.

Fonte: redir.folha.com.br

Publicado em: 2025-05-07 23:00:00 | Autor: Ricardo Westin |

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